domingo, 30 de agosto de 2015

Clipping COESA: O despertar tardio da consciência ecológica: hipocrisia pura e destilada

Exploração do gás de xisto na Fazenda Vitória, com graves riscos ambientais, a apenas 12 km de Luís Eduardo.

Quem se preocupou?


O brasileiro não sabe o que é e como se processa o conjunto de serviços estruturais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e limpeza e drenagem de lixo e águas pluviais urbanas, o que se chama de saneamento básico.
Apesar das conquistas sociais que o Brasil experimentou na última década, ainda falta muito para avançar na questão do saneamento básico. Um levantamento do Instituto Trata Brasil mostra que o país não conseguirá alcançar a universalização do sistema nos próximos 20 anos se o trabalho de implantar serviços de água e esgoto continuar no ritmo observado.
A pesquisa, chamada de Ranking do Saneamento Básico nas 100 Maiores Cidades, inclui os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) do ano base de 2012.
A conclusão aponta para uma lentidão nos investimentos no saneamento por parte das três esferas de governo — nacional, estadual e municipal. O projeto de contemplar 100% das localidades brasileiras com saneamento básico nos próximos 20 anos, portanto, já está comprometido.

As tragédias ambientais do Oeste baiano
No Oeste baiano, água tratada, esgotamento sanitário e respectivo tratamento, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais são incipientes. Quase 100% dos esgotos são jogados in natura nos rios dos vales do Rio Grande e Corrente. Quando não são jogados diretamente nos rios, infiltram-se no lençol freático através de fossas primitivas ou transbordam nas sarjetas urbanas, como é claro o exemplo de Barreiras, esperando a estação das chuvas para igualmente ganhar os rios.
Pobre povo ignorante que bebe da solução de suas próprias fezes e não sabe a diferença entre um buraco cavado no chão, para recolher o esgoto, e uma fossa séptica, que através da decomposição física e química (anaeróbica) dos dejetos domésticos permite uma melhoria dos resíduos lançados para a infiltração no solo.
Além dos nossos rios, estamos contaminando o grande lençol freático do Urucuia, reserva que abrange 3 estados, mas principalmente o Oeste baiano.
Quando o jornal O Expresso condenou com veemência a exploração do xisto betuminoso pelo sistema de fratura hidráulica, numa fazenda a 12 km de Luís Eduardo Magalhães, ninguém se manifestou, ninguém fez um comentário contra ou a favor. Sob o título “Exploração de gás de xisto no Oeste baiano pode causar desastre ambiental sem precedentes”, uma série de matérias jornalísticas mostrou a condenação, pela Justiça Federal, da exploração no litoral baiano, no Paraná, no Piauí e em outras diversas regiões do País.
Foi uma campanha distribuída em várias reportagens do jornal impresso e do blog. Repercussão igual a zero. Apenas a Petrobras, através de uma carta insossa, respondeu ao nosso questionamento.
Os mesmos representantes do agronegócio, que hoje encetam campanha “SOS Rio de Pedras”, para evitar pontos de assoreamento do córrego que banha Luís Eduardo, entraram em cena mudos e saíram calados. Puro interesse econômico! Analisavam com carinho que a exploração do gás de xisto também contemplasse suas fazendas, com o respectivo faturamento de royalties. Hipocrisia pura e destilada!
Querem fechar a BR 020 em evento aparatoso e carnavalesco? Obviamente amparado por carros de som e queima de pneus, num claro jogo político que visa às eleições municipais de 2016.
Por que não, reunir-se com o Conselho Municipal de Meio Ambiente e elaborar uma pauta de assuntos relevantes para o Meio Ambiente?

"O quê entidades sindicais e classistas patronais, as quais nunca tiveram uma agenda ambiental, estão fazendo no meio desse movimento?
Puras ambições políticas de pouco relevo: um aqui quer ser prefeito, outro acolá quer ser vereador e aí por diante. Passadas as eleições, a consciência ecológica se apaga e todos se voltarão aos seus afazeres e à ingente tarefa de enriquecer um pouco mais."



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Clipping COESA: Projeto de lei pretende acabar com zona de amortecimento das unidades de conservação do país



Mais uma tentativa de modificar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza está sendo discutida na Câmara dos Deputados. Dessa vez, a ofensiva é para reduzir as áreas de entorno das Unidades de Conservação do país, as chamadas zonas de amortecimentos.

A função das zonas de amortecimento é minimizar o impacto externo. Dentro dessas faixas, não é permitido a ocorrência de atividades danosas à unidade de conservação. Em unidades marinhas, por exemplo, não é permitida a exploração de petróleo, mas é possível usar o espaço para a pesca artesanal.

O projeto de lei 1299/2015 (http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=1215821), do deputado Toninho Pinheiro (PP-MG), pretende limitar o tamanho das zonas de amortecimento a uma faixa com o máximo de 2 km de extensão, contados a partir da fronteira da unidade de conservação. Atualmente, esta área é determinada caso a caso, conforme as características de cada unidade. O tamanho é definido pelo órgão gestor da UC: Instituto Chico Mendes, para unidades federais; Institutos ou secretarias, no caso de unidades estaduais ou municipais.


A proposta também determina que as zonas de amortecimento não poderão situar-se dentro de zona urbana dos municípios, e torna obrigatória a ocorrência de consulta pública para a sua definição. As consultas também passariam a ser necessárias para a criação de corredores ecológicos.
As zonas de amortecimento já existentes e consolidadas teriam um prazo de 6 meses para se adequar as novas regras, sob pena da sua anulação.

Comissão de Meio Ambiente

O projeto passará pelas comissões de Meio Ambiente e Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, antes de seguir para a votação no plenário da casa. A primeira vitória já foi alcançada: em junho, o projeto ganhou parecer favorável do deputado Josué Bengtson (PTB-PA), relator da proposta da Comissão de Meio Ambiente da Câmara.

No relatório pela aprovação, o relator Bengstson argumenta que o projeto “representa maior segurança jurídica e transparência na criação da chamada zona de amortecimento e corredores ecológicos quando da criação da unidade de conservação”.

Para Angela Kuczach, diretora-executiva da Rede Pró Unidades de Conservação, a proposta do deputado “é um enorme retrocesso para o Brasil”.

Angela questiona a adoção de um tamanho máximo para todas as unidades: “a zona de amortecimento não nasce da posição ideológica ou política de quem criou a unidade. Existe um motivo técnico, científico, a partir de estudos que definem o que se pode e o que não se pode ser feito dentro daquela área. Fazer essa alteração do modo como está sendo proposto, com prazo impossível de se cumprir, é um desrespeito à nação brasileira”.

Clipping COESA: Quase 800 milhões de pessoas não têm acesso à água no mundo



Para economizar, a população recebe incentivos nos EUA e Austrália. Entenda como é importante a cultura da economia no combate à escassez.
Quase 800 milhões de pessoas não têm acesso a água no mundo e uma das principais saídas para a crise hídrica é estimular a população a economizar. Esse é o tema da terceira reportagem na série "Água - Planeta em Crise".

A série de reportagens é de Tonico Ferreira, em parceria com Globo Natureza, publicada pelo portal G1, 19-08-2015. 
Com um açude bem no centro da cidade, Campina Grande, na Paraíba, dá a impressão de que tem água sobrando, mas não. O açude está poluído por esgoto. Resta para a cidade o reservatório Boqueirão, a 45 km do centro, que está com menos de 18% da capacidade.

Resultado: os 400 mil habitantes de Campina Grande estão submetidos a um rodízio de água rigoroso. O fornecimento é interrompido às 5 da tarde de sábado e só volta às 5 da manhã de terça-feira.
As caixas d'água de um conjunto habitacional na cidade são pequenas: 500 litros. As pessoas não conseguem armazenar a quantidade de água que precisam. Todos reclamam. "Enchi cinco baldes para trabalhar hoje. Eu só tenho esse aí agora. Depois que terminar esse dou uma parada para não gastar mais agua", conta o pedreiro Ermano Nascimento Alvez.

Não era para ser assim. "Hoje nós estamos pagando uma conta dessa crise por falta de planejamento, essa é uma tragédia anunciada, para quem é do setor sabe que nós não fomos dormir com água e acordamos sem água", dizNewton Azevedo, do Conselho Mundial de Água.

No caso do Boqueirão isso fica claro. Ele está perdendo volume de água desde 2011. São quatro anos de aviso.

INCENTIVO PARA ECONOMIZAR

E como uma cidade rica como Los Angeles está enfrentando a seca? Como ela fica em uma região onde normalmente chove pouco, tudo o que o dinheiro poderia fazer para trazer água para lá foi feito no passado e continua sendo feito hoje. Mas, depois de três anos de seca forte e prolongada, é preciso fazer algo mais: mudar os hábitos da população.
A prefeitura da cidade americana orienta os moradores e dá ajuda financeira. Ryan, por exemplo, trocou o vaso sanitário por um que permite meia descarga. Ele gastou o equivalente a R$ 600, mas só pôs R$ 60 do próprio bolso. A prefeitura entrou com R$ 540.
Ele comprou chuveiro com arejador que consome metade da água dos chuveiros comuns e também ganhou uma compensação por isso. O chamado "rebate", em português "desconto", que nada mais é do que o governo pagar parte dos gastos que o cidadão tem com equipamentos que economizam água.
Ryan também aprendeu técnicas para manter a umidade do solo do jardim e trocou a grama verdadeira por uma artificial, que não precisa ser regada. Ele ganhou o equivalente a R$ 100 por metro quadrado.
A conta de água caiu para o equivalente a R$ 180 por mês, R$ 100 a menos do que antes. Mas não é só por dinheiro. Ele diz que é um apaixonado pelo meio ambiente e defende medidas mais efetivas. "O melhor é mudar as políticas e começar a reusar mais água. Nós devemos usar a água tres, quatro vezes antes de ela ir para qualquer outro lugar", diz o empresário Ryan McEvoy.

QUEM FAZ A DIFERENÇA

No Brasil, a população tem que se virar. Em Campina Grande, Carlécio construiu sozinho um sistema de reúso no seu lava-jato: um filtro com pedras e areia. O consumo de água caiu 80%. O projeto foi feito com informações colhidas na internet e custou R$ 5 mil reais bancados por ele. "Aqui é só da gente mesmo e Deus dando força", conta Carlécio A. Mendonça, dono do lava-jato.

Em Montadas, na Paraíba, Vânia montou um recolhimento de água de chuva com pedaços de calha e canos. "Ah é tem que ser assim né. Se não for assim como é que nós fazemos para juntar aguinha. Mas vai chover se Deus quiser, né?", diz a dona de casa Vânia Félix.

Um casal de Cingapurax, com três filhos, economiza água com medidas bem conhecidas, mas que são aplicadas sistematicamente. Christina lava verduras e a louça em bacia, só liga a máquina de lavar quando ela está cheia de roupa e todos tomam banho abrindo e fechando o chuveiro.

Christina, que lembra que, quando pequena, o suprimento era cortado durante um dia inteiro e ela era obrigada a buscar água com balde. "É um exercício. É um exercício onde eles nos fazem passar por alguns tipos de experiências de escassez de água", conta a dona de casa Christina Cheah.
A conta dos serviços públicos (água, luz e gás) é conjunta e vem por celular e tem a comparação com o gasto médio dos vizinhos. Neste mês eles gastaram com água metade da média. No total, eles pagaram o equivalente a R$ 223.
COMO FUNCIONA NA AUSTRÁLIA
Brasileiros que moram em Brisbane, na Austrália, há 21 anos, também passaram por treinamento durante a seca do milênio que durou dez anos. Eles tiveram de acabar com a irrigação do jardim e diminuir o tempo do banho.

No auge da crise de água o governo fez uma recomendação de que os banhos durassem, no máximo, quatro minutos. E o governo mandou para todas as casas da cidade uma ampulheta que marca quatro minutos. A pessoa ficava tomando banho e quando desse quatro minutos era hora de fechar o chuveiro. A estudante Juliana Ribeirodetestou: "Não dava para lavar o cabelo".

A mãe gaúcha só não se acostumou com uma medida: lavar pratos em bacias. "Tira, passa e limpa. Não esfrego, tu come a comida de ontem, tem que tirar pelo menos o sabão", relata Carmem Ribeiro, consultora de informática.


A conta de água traz o gasto médio da vizinhança e também de toda a cidade. Como em Los Angeles, o governo dá ajuda financeira, o "rebate" (desconto). Por este sistema que recolhe água de chuva, Jachson recebeu o equivalente a R$ 4,5 mil.

Leith Boully é da Comissão Australiana da Água. Conhece a situação do Brasil e já esteve no nosso país para trocar experiências. Ela tem um conselho para nós.
"Tudo se resume a conhecer o problema, planejar e implementar esses planos e ser disciplinado sobre isso. Quanto maior a nossa população fica, e certamente no Brasil vocês têm muito mais pessoas que nós aqui, maior o esforço necessário para garantir que todos os planos sejam implementados e para que se invista em infraestrutura para manter o suprimento de água", alerta Leith Boully, da Comissão Nacional de Água da Austrália.

Em pleno século 21 ainda há quase 800 milhões de pessoas sem acesso à água no mundo. E elas estão no nosso continente, na África, na Ásia, na Oceania e até nos países ricos. Conscientizar e incentivar as iniciativas individuais estão entre as saídas para a crise de água no mundo.

Assista o Vídeo: Quase 800 milhões de pessoas não têm acesso à água no mundo

Fonte: G1

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

INB admite que urânio contamina água na Bahia


Pela primeira vez, em mais de 14 anos de atividade no semiárido baiano, as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) admitem a contaminação da água em Lagoa Real, município limítrofe com Maniaçu, distrito de Caetité, onde opera a única unidade de mineração e concentração de urânio ativa na América Latina, a cerca de 700 km de Salvador, capital da Bahia. Mas nem um órgão competente tomou providências para proteger as populações da região. Comunicado do prefeito de Lagoa Real Francisco José Cardoso de Freitas informa em maio passado, que o poço do Sr. Oswaldo, na comunidade de Varginha, naquele município, seria “fechado por ser considerado impróprio para o consumo humano, baseado no boletim de análise feita pela INB.”  
Só que o aviso do prefeito tem quase três meses, sem que o poço tenha sido lacrado. A população de Lagoa Real está perplexa com o descaso dos gestores municipais e exige uma ação concreta incluindo a análise independente da água de mais três poços que os comunitários suspeitam estarem contaminados. Esta denúncia foi feita pelo representante da Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité, Gilmar Santos, durante o seminário (07/08/2015) que discutiu, em Angra dos Reis (RJ), os impactos e prejuízos do Programa Nuclear Brasileiro. Em Angra, estão as usinas atômicas da Eletronuclear, atualmente alvo de investigação na Operação Lava Jato, por suspeita de envolvimento na corrupção relacionada à construção de Angra 3. Gilmar também relatou outros prejuízos causados à região, como o aumento de casos de câncer e outras doenças causadas por radiações ionizantes.


Gilmar Santos da Comissão Paroquial de Meio Ambiente de Caetité, durante o seminário (07/08/2015) que discutiu, em Angra dos Reis (RJ), os impactos e prejuízos do Programa Nuclear Brasileiro


MONITORAMENTO DEFICIENTE

Enquanto isto em Caetité, a INB espalhou um boletim (des) informativo em julho, onde afirma que “as águas dos poços apresentam nível de radiação seguro para consumo”.  Sem fazer nem uma menção à contaminação do poço de Lagoa Real, garante que a análise de amostras de águas subterrâneas de Caetité, colhidas em 2014, aponta um nível de urânio abaixo do fixado pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente. E faz, como sempre, a autoproclamação da excelência do monitoramento ambiental que realiza em Caetité.

Contudo, seus autoelogios não convencem a população, nem a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), nem o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA), que tem registrado crimes ambientais e caracteriza os relatórios de monitoração ambiental da INB de ‘incompletos, inconsistentes e inócuos’Técnicos do IBAMA apontam falhas graves na base do Programa Nuclear Brasileiro, como a falta de manual para situações de emergências e procedimentos gerais de segurança, saúde e meio ambiente e a não correção de várias irregularidades determinadas em diversas ocasiões.

Ainda assim, em abril passado, o IBAMA concedeu Licença de Instalação para que a INB explore nova jazida em Maniaçu, composta de três cavas a céu aberto, surpreendendo, mais uma vez, a população da região. Afinal essa mesma jazida foi alvo de recomendação de autuação por técnicos do IBAMA, em 2013, já que por mais de oito anos, a INB suprimiu vegetação do local, sem a devida autorização legal.

CRIMES SOCIOAMBIENTAIS

Desde 2012, o laboratório da Comissão de Pesquisa e Informação Independente sobre Radioatividade (CRIIRAD) da Françaque tem qualificação técnica certificada pelo Ministério da Saúde e é reconhecido pela Autoridade de Segurança Nuclear da França, vem fazendo Monitoramento do Impacto Radiológico da Mina de Urânio em Caetité. Em relatório recente, afirma que o monitoramento ambiental da INB sobre a primeira mina que explorou, a Cachoeira, tem deficiências graves, como a falta de resultados para o monitoramento da radiação gama no ambiente, a deposição de poeira no solo, a contaminação do solo e da cadeia alimentar, o monitoramento das águas superficiais e sedimentos e a impossibilidade de avaliar a concentração de radônio no ar.
O CRIIRAD considera urgente que a INB faça o monitoramento das atividades de radônio, porque ele pode ser muito elevado nas águas subterrâneas, podendo provocar dose de contaminação muito maior do que o próprio urânio; também sugere o monitoramento do polônio 210, um metal radioativo, que associado ao urânio 238, torna-se uma das substâncias mais radiotóxicas quando ingerido. Se com a exploração da mina Cachoeira, a INB arrasou com o meio ambiente, imagine o que vai ser da região com a exploração de mais três cavas, sem que o passivo deixado em Cachoeira tenha sido devidamente avaliado.
As populações afetadas consideram inaceitável que a CNEN e IBAMA permitam que a INB continue a minerar urânio, sem que históricas determinações de correção de irregularidades tenham sido executadas. Também consideram inaceitável que as autoridades responsáveis pela regulação e fiscalização de atividades degradadoras do meio ambiente e que ameaçam a vida das pessoas admitam que a INB continue repetindo os mesmos crimes ambientais e sociais, que vem cometendo há mais de 14 anos, quando iniciou a exploração do urânio na Bahia, gerando tantos prejuízos para a região e sofrimento para seus moradores, trabalhadores e ex-trabalhadores.
Zoraide Vilasboas
Associação Movimento Paulo Jackson - Ética, Justiça, Cidadania

sábado, 1 de agosto de 2015

Servidores do INEMA divulgam carta aberta à sociedade baiana



CARTA ABERTA À SOCIEDADE

Nós, servidores do corpo técnico do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (INEMA), autarquia da administração indireta do estado da Bahia, somos responsáveis pela emissão de licenças, autorizações ambientais e outorga para o uso a água, pela fiscalização das atividades potencialmente poluidoras, pela criação e gestão de Unidades de Conservação, e pela gestão dos recursos hídricos, florestais e da biodiversidade, além da fiscalização da segurança de barragens, e vimos prestar alguns esclarecimentos à sociedade baiana.

Conscientes das suas responsabilidades e atentos às demandas da sociedade, os servidores deste Instituto estão empenhados em alertar a toda sociedade civil para os desmandos provocados pela política ambiental promovida na atual gestão, ao longo dos últimos cinco anos, e para as ações deliberadas do governo para desqualificar as estruturas estaduais e o corpo técnico do INEMA, como pano fundo para o desmonte da gestão ambiental e dos recursos hídricos no estado e no país.

Grande parte disso decorre da desestruturação institucional do INEMA, que vem perdendo sua autonomia de órgão executor da política de meio ambiente e recursos hídricos, tendo a Secretária de Meio Ambiente usurpado suas atribuições e projetos – cometendo graves desvios das suas competências legais. A exemplo do “confisco” legalizado do Fundo de Meio Ambiente (FERFA) e do Fundo de Recursos Hídricos (FERHBA), cuja transferência para a SEMA impactou severamente a autonomia do INEMA, tirando recursos financeiros e patrimoniais importantes para a execução da política ambiental. Ademais, a participação popular foi descaracterizada pela pasteurização das audiências públicas e o enfraquecimento do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM). As análises dos Estudos de Impactos Ambientais foram distorcidamente simplificadas e as Comissões Técnicas de Garantia Ambiental (CTGA) de órgãos públicos passaram a assumir o licenciamento de empresas privadas. É grave ver “legalizada” neste Estado a flexibilização dos instrumentos de gestão ambiental, a exemplo da isenção de licenciamento para agricultura e pecuária extensiva, e o excesso de autorizações para supressão de vegetação nativa que potencializa desmatamento insustentável.

A conservação da biodiversidade e a gestão das Unidades de Conservação - UC não tem  tido prioridade na atual agenda ambiental: há mais de 4 anos nenhuma UC foi criada na Bahia, nenhum Plano de Manejo foi elaborado, e nenhum projeto socioambiental foi contemplado para as comunidades no entorno das UC. Ainda mais grave, a maioria das UC está sem gestor, apesar do concurso público realizado recentemente ter previsto servidores para essa função, o que não foi respeitado. A situação da gestão da biodiversidade é ainda mais grave do ponto de vista administrativo, com alta rotatividade de diretores tecnicamente despreparados (5 diretores em 4 anos), o que ocasionou estagnação das ações de gestão florestal e da proteção da fauna silvestre, a exemplo da não implantação de sequer um Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) estadual.

A Bahia foi um dos estados pioneiro na criação de uma Política Estadual de Recursos Hídricos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, com a publicação da Lei nº 6.855/1995, que precedeu a Lei Federal 9.433/1997, a qual estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Apesar desse pioneirismo, a Bahia tem vivenciado, nos últimos anos, retrocessos na gestão de seus recursos hídricos, com frequentes modificações na política estadual, nos últimos anos. Em especial, as leis 12.035/2010, 12.377/2011, que alteraram a lei 11.612/2009, mesclaram sem integrar devidamente a política de Meio Ambiente com a de Recursos Hídricos, não atentando para suas devidas particularidades e fragilizando os instrumentos de gestão das águas.

Essas ações de desmonte da Política Estadual de Recursos Hídricos se iniciaram na gestão do Secretário Eugênio Spengler, quando em 2010, as campanhas de monitoramento da qualidade das águas da Bahia foram reduzidas de 4 para 2 por ano, além das reuniões dos Comitês de Bacia Hidrográfica e do Conselho Estadual de Recursos Hídricos terem sido reduzidas drasticamente. Em 2011, a extinção do Instituto de Gestão das Águas e Clima quebrou um processo de fortalecimento do Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, com a pulverização da outorga em diversos setores do INEMA, a descontinuidade do cadastro dos usuários da água, a redução da fiscalização, assim como a extinção do Centro de Meteorologia da Bahia - CEMBA, entre outros. Nesse período nenhum novo Comitê de Bacia foi formado e os atuais têm suas atuações esvaziadas. Dentre outras consequências, destacamos a fragmentação e esfacelamento da análise e gestão das outorgas, bem como atraso nos planos de bacia e enquadramento de corpos d’água, que poderão comprometer a disponibilidade hídrica para os usuários e agravar a crise hídrica, já instalada. Apesar dos esforços dos técnicos em apontar e tentar corrigir esses problemas, a direção do INEMA não tem respondido de forma efetiva.

A falta de diálogo dessa gestão é a marca registrada permeada por absoluta falta de respeito com os servidores, despreparo na condução dos processos de negociação, descumprimento de acordos, e não atendimento deliberado dos nossos pleitos o que demonstra autoritarismo e distorção na centralidade da direção do órgão. Como exemplo: ausência completa da participação dos servidores nas discussões do Plano Plurianual; a ineficiência da Avaliação de Desempenho Funcional (ADF); a falta de transparência na condução do percebimento de insalubridade e periculosidade para os servidores que se expõem a riscos em atividades de campo; a ausência de segurança no trabalho; falta de capacitação e valorização do servidor; entre outras demandas que são totalmente ignoradas pelos dirigentes, provocando uma onda de insatisfação e desânimo do servidor para com esta gestão.

Por fim, nós, servidores do corpo técnico do INEMA, gostaríamos de manifestar nossa indignação e informar à população que estamos em Operação Padrão desde Abril/2015 e que, caso não ocorram avanços das pautas reivindicadas, entraremos em paralisação.

Certos de que o meio ambiente equilibrado é interesse e responsabilidade de todos, convocamos a sociedade baiana para a reflexão e o apoio à nossa mobilização, tendo como meta novos rumos para o meio ambiente e as águas da Bahia.

ASCRA – Associação Pré-Sindical dos Servidores do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
ASSERF – Associação dos Especialistas e Fiscais do Grupo Ocupacional Fiscalização e Regulação do Estado da Bahia
AFA – Associação dos Fiscais Estaduais Agropecuários da Bahia

ASTEFIRBA – Associação dos Técnicos em Fiscalização e Regulação da Bahia

Fonte: ASCRA
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