segunda-feira, 21 de março de 2016

COESA divulga CARTA ABERTA A TODA SOCIEDADE BAIANA SOBRE OS PERIGOS DA "FLEXIBILIZAÇÃO" DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO BRASIL


O COESA apresentou durante a 386ª Reunião Ordinária do Conselho Estadual de Meio Ambiente da Bahia - CEPRAM sua Carta Aberta à toda sociedade baiana sobre os perigos da "flexibilização" do licenciamento ambiental no Brasil. A carta é assinada pelas 22 entidades socioambiental que compõem o COESA e mais outras instituições, como a ASCRA (Associação Pré-Sindical dos Servidores do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos), a Colônia de Pescadores Z-64, a Rede do Oeste da Bahia de Educação Ambiental e muitas pessoas físicas que estavam presentes na reunião.

A carta foi lida durante a plenária do CEPRAM pelo ambientalista Daniel Melo Barreto, logo após a apresentação, por parte da Secretaria de Meio Ambiente da Bahia, da minuta de resolução que a ABEMA, que é presidida pelo então Secretário de Meio Ambiente Eugênio Spengler, apresentou no CONAMA.

Caso alguma instituição ou mesmo pessoa física queira também assinar a carta, basta encaminhar e-mail para m.daniel@coesa.org.br

Abaixo segue a integra da CARTA ABERTA:


CARTA ABERTA A TODA SOCIEDADE BAIANA SOBRE OS PERIGOS DA "FLEXIBILIZAÇÃO DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO BRASIL

O Conselho da Entidades Socioambientalistas da Bahia - COESA, composto de 22 (vinte e duas) entidades socioambientais, vem perante a toda sociedade baiana, MANIFESTAR-SE contrário e preocupado com a tentativa de flexibilização do licenciamento ambiental no Brasil.

A Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente - ABEMA, hoje presidida pelo atual Secretário de Meio Ambiente da Bahia, o Sr. Eugênio Spengler, apresentou ao Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, uma proposta de alteração das Resoluções nº 01/1986 e nº 242/1987, que hoje são o alicerce do licenciamento ambiental brasileiro, para torna-lo muito mais flexível, sob o pretexto de que tais mudanças irão “agilizar” e “desburocratizar” os processos. Mas na verdade, tais proposições criam a possibilidade de um “autolicenciamento”, e ignoram fundamentações importantes e de forma distorcida apresentam corte de etapas e simplificação generalizada dos licenciamentos, de forma que as análises ambientais ficariam refém da celeridade em prejuízo da qualidade.

Cabe destacar ainda que a proposta em referência dispensa indevidamente a atividade agrosilvopastoril do seu necessário licenciamento. Esta fragilidade vem sendo amplamente contestada no âmbito dos Ministérios Públicos Estaduais e Federais.

Desta forma, nós do COESA alertamos a sociedade para o fato de que tais propostas evidenciam nas entrelinhas a desconstrução dos mecanismos e regramentos para a emissão do licenciamento ambiental.

Ora, no momento em que o mundo assiste horrorizado à tragédia de Mariana, em Minas Gerais, em que a lama da Samarco/BHP/Vale deixa um rastro de morte e destruição dos ecossistemas em três estados, temos sim que questionar os mecanismos de concessão, fiscalização e monitoramento dos licenciamentos ambientais no país e também aqui no estado da Bahia. Vemos estarrecidos os bastidores dessa ausência do poder público no monitoramento das atividades vinculadas ao licenciamento. As imagens do que se transformou o Rio Doce, de Bento Rodrigues até sua foz no Espirito Santo, deveriam nos mobilizar para evitar que o interesse econômico e político tenha prevalência sobre o meio ambiente e a vida das pessoas e animais.

Assim, é imperativo que a sociedade civil tenha real participação nesse processo de discussão. Não podemos aceitar, nem patrocinar retrocessos. O Brasil dispõe de recursos naturais de riqueza inquestionável, que devem ser protegidos por uma legislação que impeça a sua exploração a serviço de interesses políticos e econômicos nacionais e internacionais.

Bem sabemos que em todos os estados brasileiros, os órgãos ambientais das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) padecem de orçamento, pessoal e condições materiais para sua efetiva atuação. No caso específico da Bahia, por exemplo, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - INEMA e a própria Secretaria de Meio Ambiente - SEMA carecem de uma reestruturação, principalmente os escritório regionais do INEMA. Cabe destacar que o órgão ambiental estadual não é capaz de gerir nem as Unidades de Conservação do estado, quiçá possui capacidade de licenciar, fiscalizar e monitorar os licenciamentos ambientais. Em nível municipal a situação é ainda pior, uma vez que o licenciamento ambiental muitas vezes serve de moeda de troca.

Também ressaltamos a ausência de monitoramento ambiental das outorgas de uso de água no Estado da Bahia, terrestre ou subterrânea, que são liberadas sem que o Estado saiba a real capacidade de seus rios, aquíferos e lençóis freáticos. Também, é preciso acrescentar o despejo histórico e sistemático pela EMBASA de esgoto in natura nos rios baianos.

É preciso corrigir essas e outras atrocidades.

Por fim, vale destacar que nós do COESA nos alinhamos ao posicionamento, de diversas entidades socioambientais espalhadas pelo Brasil que também já se manifestaram contra esse processo encabeçado pela ABEMA.

Desta forma, exigimos:

Que qualquer alteração de normas referentes ao licenciamento ambiental respeite a Política Nacional de Meio Ambiente e a Constituição Federal, bem como, esteja compromissada com os princípios da precaução e da proibição de retrocesso ambiental.

Que as propostas normativas em tramitação, tanto no Congresso Nacional como no CONAMA, considerem, prioritariamente, discutir com a efetiva participação da sociedade a realidade atual do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA frente à tarefa do licenciamento ambiental, incluindo temas cruciais como a capacitação de seus quadros, sua estrutura operacional e sua independência para o exercício do licenciamento com isonomia e transparência e também a participação social plena nestes processos;

Que as discussões para o aprimoramento do Licenciamento Ambiental sejam realizadas com ética, com respeito à legislação vigente, com bases científicas comprovadas e com efetiva participação social.

Salvador, 18 de março de 2016

Assinam essa carta:
Associação do Desenvolvimento Solidário e Sustentável - ADES
Assessoria e Gestão em Estudos da Natureza, Desenvolvimento Humano e Agroecologia - AGENDHA
Associação Cultural e Ecologia - ASCAE
Associação Movimento Paulo Jackson, Ética, Justiça e Cidadania
Instituto Baleia Jubarte
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia - CEPEDES
Flora Brasil
Floresta Viva
Fundação Padre José Koopmans - FUNPAJ
Grupo de Apoio à Cidadania Ambiental - GACIAM
Grupo Ambientalista da Bahia - GAMBÁ
Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental - GERMEN
Instituto de Ação Ambiental da Bahia - IAMBA
Instituto de Defesa, Estudo e Integração Ambiental - IDEIA
Instituto Bonfinense de Meio Ambiente e Educação Ambiental - IMBU
Instituto de Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável do Oeste da Bahia - BIOESTE
Instituto Buzios
Grupo Ecológico Humanista Papamel - PAPAMEL
Proteção e Revitalização Integral da Serra dos Montes Altos - PRISMA
Projeto Tamar
Viver da Mata
Miguel da Costa Accioly - Universidade Federal da Bahia – Conselheiro Cepram
Colônia de Pescadores Z-64
Rede do Oeste da Bahia de Educação Ambiental
Associação Pré-Sindical dos Servidores do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - ASCRA
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